domingo, 1 de janeiro de 2017

BLUMENAU, AGORA, É O NORTE

Por Urda Alice Klueger (Blumenau, SC)

(Para meus amigos de fé, irmãos, camaradas Luiz Carlos Amorim e Raul Longo)

                                   Blumenau, agora, é o Norte – nestes nove primeiros dias nos quais já não sou mais daquela cidade, a cada um dia um pouco (ou muito) fui me dando conta das tantas diferenças, que imaginava e que de vez em quando são maiores, mui mui maiores do que supunha, mas só hoje é que se impôs esta realidade ainda não pensada: Blumenau, agora, é o norte.           
                                   Estou aqui como que um pouco espremida entre esta enseada de beleza e calma ímpares, que lá por traz, numa distância que impede que se ouça o resfolegar de um caminhão, por maior que ele seja, é contornada pela BR 101, e entre o aqui e os horizontes que não são marinhos só há, mesmo, a rodovia a cortar o contato direto entre o meu quintal arborizado e a reserva ecológica do Parque do Tabuleiro, onde está guardada ciumentamente a água que abastecerá a região da grande Florianópolis pelos próximos 1.000 anos. Tanto quanto entendi até agora a reserva começa a duas casas daqui – se não fossem as uvas, os diversos tipos de laranjas, plantas alienígenas, eu diria que este meu espaço já é plena reserva, ainda mais com a água pura das montanhas que corre aqui gratuitamente em todas as torneiras e em pequenos ribeirões pela praia, ainda mais com coisas como jabuticabas e maracujás-doces que habitam cá à minha frente. Meu cachorro, aqui, corre livremente por todo o terreno amplo, e pela ruazinha que neste lugar se chama servidão e por toda a amplidão da praia, quanto queira, e quando penso como um cachorro bonzinho como o meu viveu uma vida reprimida lá naquela terra do Norte... 
                                   Blumenau, agora, é o Norte, e como ficou clara tal coisa desde esta manhã, quando despertei sabendo que aqui já não era o vale, que estava muito, muito mais próxima dos campos onde geou na noite passada, e me lembrei de uma vez em que sobrevoei o estado de Santa Catarina no sentido leste-oeste num dia inteiramente sem nuvens, passando mais ou menos aqui por cima de onde estou, vi como se sucederam, rapidamente, as praias, os vales litorâneos, e de repente... UPA!!! – Santa Catarina deu um salto de muitos metros, mais de mil, com certeza, coisa inteiramente visível pela janela do avião, numa escarpa de pedra lisa perpendicular ao chão, e se num instante antes se viam os altos dos vales, num instante depois se sobrevoava os campos planos onde neva e onde a geada pode aparecer ainda no final da primavera, como aconteceu na noite passada.
                                   Tudo é muito perto, conforme pude ver no avião, naquele dia, e conforme o ato de estar viva fez com que eu sentisse hoje. Houve geada lá por cima, e o frio que desceu a encosta e chegou aqui é diferente de qualquer frio que porventura eu já possa ter sentido algum dia no Vale do Itajaí, com sua umidade e seus horizontes apertados – talvez com o tempo saiba explicar isto melhor. Mas foi uma descoberta enorme essa de entender que Blumenau, agora, é o Norte, pois aqui se vive diferente, se sente diferente, se respira diferente, e quando o frio adstringente que rolou lá do alto e alisou as águas da enseada como se ela fosse uma lâmina de vidro, eu fui me sentar na beira da praia e só então entendi o quanto estava ao sul. 
                                   O que queria registrar é que, principalmente num dia como o de hoje, de lua quase cheia, maré alta e geada nos campos, é infinitamente bom estar no Sul!                       

                                   (Enseada de Brito, 12 de novembro de 2016)


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