quinta-feira, 1 de setembro de 2016

CLARISSE E O MERGULHO NA ESCURIDÃO

Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)
Talvez não seja um sonho.
Enfim...
E ela esteja lá...
Na alcova minha
À meia luz!
Esperando por mim...
Enquanto na vitrola...
Toca o mais puro lamento negro,
A mais cristalina negra dor.

‘’Nunca me interessei por revisitar cenários’’ — Disse Clarisse para si mesma, mas com vontade de gritar bem alto para todo mundo ouvir. Pois o elementos, que ela podia lembrar, estavam todos lá disposto diante dela. O balcão de mármore carrara, o bar com vários tipos de bebidas e copos de vários estilos, marcas e preços, as cadeiras espreguiçadeiras de praia gêmeas as famosas outdoor dubbele chaise lounge, a mureta com o peitoril e grande fabrica em detalhes artesanais, mesas e cadeiras distribuídas simetricamente e uma pequena piscina e a bela vista para o mar. Uma olhada rápida e Clarisse notou um grande retrato em preto e branco, com a assinatura de fotografo famoso, era o professor Muteia muito bem revisto, como de costume, mas de maneira casual ladeado de uma jovem e bonita mulher elegantemente vestida, também de maneira casual. Ele sentado em uma patrona e ela em pé e com as mãos em volta do pescoço do africano em terno carinho: — Então esta é Agnela e esposa de Muteia — Pensou Clarisse em um lampejo
— Belo local de trabalho professor Mutéia!
— É Muteia sem acento, há um hiato no meu nome e na minha vida. Podes de me chamar pelo meu prenome Adérito. Vamos sentar logo e começar a entrevista, pois não tenho muito tempo menina/mulher.
Foram andando lentamente em direção de uma mesa a poucos metros da pequena mureta de frente para o mar. O africano afastou uma cadeira de forma cavalheiresca, Adérito ocupou uma cadeira em frente de Clarisse e em um estalar de dedos um garçom apareceu para atende-los. Clarisse deu uma olhada melhor no homem e viu que era mais que um garçom era um mordomo que os servia.
— Secretário me traga uma chávena de chá e os meus charutos, o que queres minha querida Clarisse?
— O chá para mim esta bom e dispenso os charutos!
— Sim senhor! Vou trazer duas chávena de chá e os charutos!
O homem desapareceu tão rápido como surgiu e por fim os dois estavam em um lugar reservado e sozinhos. Clarisse tinha mil perguntas para fazer e ao mesmo tempo queria fugir do óbvio, pois ali quem estava diante dela não é uma pessoa qualquer.
— Então como é mesmo o nome do veículo em que trabalhas?
— Revista Astro-domo, de literatura, estética, moda, comportamento e arte!
— Interessante, já a conhece faz um bom tempo e é bem moderna, pois está em várias nas plataformas digitais pelo que sei.
— Então o senhor conhece a nossa pequena revista?
— Ligue o gravador miúda e vamos logo começar a trabalhar!
A pressa do africano fez um alarme disparar em Clarisse, essas figuras não tendem a ter muita pressa quando estão lidando com arte. Adérito foi forjado, em parte, pela velha escola clássica europeia. Esperam por um tempo, sem saber o motivo, e entreolharam-se com profundidade, como se um enorme abismo os separassem-se, o clima só foi quebrado com a volta do mordomo. Ele voltou com uma bandeja de prata, recoberta por um delicado manto de linho branco, os serviu de forma solene e sem nada dizer e se retirou bem rápido. Clarisse achou tudo afetado por demais refinado, para uma simples entrevista para uma revista obscura de literatura e arte, mas voltou a pensar na formação clássica do professor.
— Então professor, quer estabelecer alguns limites para a entrevista?
— Creio que não minha cara, só fico contente de poder ser entrevistado por alguém mais próximo da minha realidade. Quase não se vê muitos negros atuando na literatura, é primeira vez que dou entrevista para outro da minha raça neste belo país.
— Então que é escritor para o senhor? — Clarisse usou uma clichê logo de entrada após ligar o pequeno aparelho digital.
— Não posso falar e literatura e arte em geral nos conturbados hoje, na era da comunicação em massa e instantânea, sem olhar para o passo para compreendermos melhor o presente momento. Se no passado não muito distante nós escritores escrevíamos usando a pena e iluminamos pelo luz de velas e candeeiros. Enquanto na geração seguinte a máquina de escrever, luz elétrica e as barulhentas máquina a vapor dando um ritmo mais acelerado para a sociedade que se urbanizou e se mecanizou. Então revista e jornais passaram a abrigar uma nova gama de escritores e novas profissões ligados ao mundo da artes em geral surgia. A educação também começou se massificar bem nesta era, e novos leitores surgiram. Isso se reflete na escrita e nas arte em geral, no momento presente, pois a velocidade de hoje, com a escrita digital acelerou muito mais do que a era da escrita mecanizada. Mas estou sendo muito enfadonho minha cara!
— Não professor, não está sendo enfadonho! — Ela queria dizer sim.
— E escrever a minha humilde opinião: — É transcender infinito, é fugir do óbvio e não conhecer limites para compor as peças que vou tecendo! Responda minha quase aluna, o que é realidade? E eu respondo que no mundo de hoje a realidade é o que a gente quer que ela seja, e mais nada para além disto tudo! — Clarisse ouve ao longe um leve ranger de uma porta se abrindo — E antecipando a tua próxima pergunta, sobre as escolas e tendências que digo seguir, eu navego, ou melhor flutuo, pelas escolas do simbolista e do surrealista. Trafego por estas duas escolas, mesmo que esteja fora de moda falar em escolas literárias. E te digo, que para o padrão da contemporaneidade de hoje, são as escolas que mais poderia representar a pós-modernismo delirante de muitas perguntas e poucas certezas! — Clarisse ouve passos leves, eram o barulho típico de salto alto quinze batendo no chão frio e duro do terraço. — Se a pouco me perguntou sobre Agnes, então te digo que ela é fruto da minha imaginação, uma filha querida na verdade. — A sombra de ama mulher projeta por detrás de Clarisse a encobre e se agiganta — Ela como outros personagens vem e vão ao sabor do vento e da ocasião no estro meu. — A mulher passa ao lado de Clarisse e a jovem entrevistadora e reconhece é a mesma mulher que outrora estivera com Adérito Muteia na livraria a poucos dias, usava a mesma roupa e até o mesmo perfume. — E é assim que o meu mundo literário se revela para mim minha querida, como um sonho, aos pedaços, novoento, nebuloso. — Ela vai até o luso africano se abaixa e sussurra no ouvido bem baixinho palavras incompreensíveis para Clarisse, ele simplesmente sorri — São personagens rebeldes por natureza minha cara, não os controlo em absoluto — A mulher se afasta sobe na mureta com muita agilidade, olha para Clarisse e sorri e então pula. Clarisse atônita corre até a mureta e olha para baixo, ela estava em prantos, olha para baixo e muitos andares a baixo e vê o próprio corpo estatelado do chão e pessoas andando ao lado do seu corpo sem vida como se ele não existisse. Clarisse recua em choque e olha de novo, os muitos andares sumiram e ela não vê mais nada, somente o andar a baixo e poucos transeuntes desavisados e alheios ao que ocorria na terraço do Café. E sem nada entender se vê de volta na cadeira a olhar para Adérito Muteia, era como se perdera a consciência por segundos angustiantes que pareciam uma eternidade — Então é isso miúda, em tempos de realidade liquefeita nada é de verdade e vivemos em um mundo de mentiras de doces ilusões que contam para gente e coisas que nós mesmo inventamos! — Clarisse tinha a cabeça pesada, não sabe o que pensar e dizer naquela hora derradeira.


Nenhum comentário:

Postar um comentário