quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

ENEIDA (poema cantado)

Poema: Paccelli M. Zahler
Arranjo e interpretação: Anand Rao

DESENCONTRO (poema cantado)

Poema: Paccelli M. Zahler
Arranjo e interpretação: Anand Rao

MOSTRUÁRIO DAS RUAS

Por Ernesto Wayne (patrono da cadeira nº 09 da ALB/DF)

No mostruário das ruas,
Das praças e dos cafés,
Dos bares e dos hotéis,
Eram, por assim dizer,
Uns requebrados painéis,
Reclames e chamariscos
A levá-las pros bordéis
Pras “repúblicas” que havia
E são chateaux, cabarets,
São rendez-vous, garçonnières,
E são pensões de soubrettes
São michés e matinées
(Essas coisas se diziam,
Naquele tempo, em francês
E tout três chiquement...)
Datilografam sentidos
Nas vitrinas ao comprido

Dos lençóis sobre os colchões...

(do livro "Damas da Noite", Bagé, RS, 2013).

TOALHA DE MESA

Por Ernesto Wayne (patrono da cadeira nº 09 da ALB/DF)

A toalha desta mesa
Em xadrez vermelho e branco
As minhas vestes são brancas
Rubras as de minha amiga

Eu serei o vinho branco
Ela será o vinho tinto

Embora tão diferentes
Como a água o é do vinho,
Nós as duas somos como
Um vinho da mesma pipa

Uma branca, outra vermelha,
Somos vinho vagabundo:

Foi o mundo, foi o mundo
E foi poço muito fundo,
Foi salário pelo ovário,
Foi otário e salafrário:
Fizeram de nós ser borra

De vinho muito ordinário...

(do livro "Damas da Noite", Bagé, RS, 2013)

PAZ

Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)

Precisa a paz
tem a guerra
precisa ver
tem a escuridão
precisa falar
tem a mudez declarada
em lei no alterado sentido
do saber: precisa punir
                tem a absolvição

                do esquecimento.

ANTEPASSAR

Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)

No antepassado o silêncio sepulcral
do desinteresse com que me debruço
ao destino. O passar dos anos
amiúda a inconsequência de seguir
em frente. Alardeio o futuro em progressos
e não aprendo a exteriorizar sentimentos

- em laboratórios tentam
 novo paradigma humano
        feito gesto e plástico.

Aos antepassados rendo glórias
em datas pré-fixadas. Denomino
ruas. Fixo placas.

- no fim do corredor
 chora o passado: triste

             rosto à imagem.

ESCUTAR

Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)

Escuto o barulho dos tambores
no som dos homens trabalhando
escuto o silêncio reservado do poeta
no alarido das crianças
escuto o sentimento extravasado
no discurso do profeta
escuto o anoitecer no cão que late
ao pássaro no voo indelével
escuto o raspar da pedra sobre a pedra

ao escutar você e não escuto nada

ESPAÇAR

Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)


Espaçar: fazer com que outros
se apresentem ao futuro.
Descarregar a pressa (não expressar).

Deixar a presa se distanciar
e soltar a fera restrita
em desencantos. A palavra precisa
de espaço para ser entendida
como tal
e ares montanhosos
retornam sibilinas

avalanches.

O SUCESSO DE UMA MENINA RICA

Por Humberto Pinho da Silva (Vila Nova de Gaia, Portugal)

No início do presente século, conheci senhora, viúva, que pertencia a ilustre família lisboeta.
Dedicava-se às Letras. Tinha vários livros publicados, que oferecia aos amigos. Desconheço se alguma vez chegou a colocá-los nas livrarias.
Já bastante doente, mas muito lúcida, colaborava no blogue luso-brasileiro “PAZ”, com poemas e textos, bem escritos e bem curiosos.
Nesse tempo, o blogue, era publicado na comunidade do jornal “SOL”; mais tarde, por motivos técnicos, deixou o “SOL” e sofreu algumas alterações.
Mas, não era intenção abordar o blogue luso-brasileiro, mas sim minha querida amiga, já falecida.
Contou-me, a poetisa, que quando era nova, gostava de escrever poesia. Eram poemas incipientes de quem começa a versejar.
O pai, pessoa influente, conhece-os, e para lhe ser agradável, disse-lhe que iria publicá-los.
Escusado é dizer, que a menina ficou radiante, e não se conteve enquanto não contou, a façanha, às amigas mais íntimas.
O que não esperava, é que o pai fosse solicitar o apoio de conhecido escritor, homem, de nome feito, e autor de romances conhecidíssimos.
Para ser simpático ao amigo – amigo rico e influente, – o escritor pediu a jornalistas e homens de letras, seus conhecidos, que escrevessem palavrinhas amáveis, sobre os poemas, se possível na mass-media.
O livro, quando saiu, vinha com abas e contracapa recheadas de pareceres de nomes pomposos. A menina delirou ao ver o livro nos escaparates, e ainda mais, quando a televisão a convidou para curta entrevista.
Outras obras foram entretanto publicadas, muito mais estruturadas e com textos e poemas de melhor quilate, mas não obtiveram o sucesso da primeira.
Dizia-me, então, minha querida amiga: ”falecido meu pai, nunca mais a critica se preocupou com os meus escritos…”
O êxito não estava na obra, mas no dinheiro paterno, e na influência que este tinha.
Moral da história: O mérito não reside no que se diz, mas de quem o diz. Neste caso, na carteira e  relacionamentos paternos.