terça-feira, 1 de abril de 2014

SONETO DE INVERNO

Por Ernesto Wayne (Bagé, RS)

Dentro de mim, eu mesmo encontro abrigo
Do vento frio de tantas baças,
Pelos meus olhos, tais como vidraças,
Minha alma espia como num postigo.

Das árvores, alvíssimas carcaças,
Goteja em mim um gelo de jazigo.
Chove? Saber sequer eu nem consigo,
Podem ser minhas lágrimas escassas.

Então sucede coisa meio louca,
Tem arrepios a alma com o ar frio
E sai desfeita em bruma pela boca.

E cada vez que, sem querer, respiro
No inverno, sinto um sonho que fugiu,
Sob a forma de névoa de um suspiro.

Sobre o autor: Ernesto Wayne (1929-1997), natural de Bagé, RS, foi professor, poeta, ensaísta e jornalista. É patrono da cadeira nº 09, da Academia de Letras do Brasil, Seccional Distrito Federal - ALB/DF.


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