terça-feira, 9 de julho de 2013

PERFIL: MARTIM D AVILA GARCIA




Por Paccelli José Maracci Zahler

Martim D’ Ávila Garcia é bajeense, com experiência de 15 anos em fotojornalismo, fotografia publicitária e tratamento digital de imagens.
Na entrevista, concedida por correio eletrônico, ele nos falou um pouco sobre o seu trabalho e sua vida.

RCC.: Segundo Confúcio, “uma imagem vale por mil palavras”. Elas o inspiraram a dedicar-se à fotografia?

Garcia:  Mais que uma descrição, acredito que a fotografia pode mostrar coisas que não existem na realidade, mas em conexão com o que existe dentro do individuo é criada uma nova perspectiva em associação com a imagem.

RCC.: Seu avô, Heron D’ Ávila trabalhou com fotografia na companhia de cinema Vera Cruz, em São Paulo; sua mãe, Fátima D’ Ávila, artista plástica, também se dedica à fotografia. O senhor considera o seu ofício uma herança de família?

Garcia: Acho que influenciou bastante essa convivência, pois diversas vezes a vi trabalhando peças artísticas (pintura, fotografia, joalheria).

RCC.: O senhor nasceu em Bagé, RS, como foi a sua formação escolar?

Garcia: A parte formal foi totalmente comum (Colégio Nossa Senhora Auxiliadora e o Colégio Estadual Dr. Carlos Kluwe). Mas acredito que a Escolinha de Artes Odessa Macedo (era assim chamada na época) me proporcionou um olhar mais artístico para as coisas. 





RCC.: A arquitetura da cidade de Bagé, RS, despertou seu interesse pela fotografia?

Garcia: Inicialmente, não. Na arquitetura, é levado em conta um sistema de “cheios e vazios” onde diz que se não houver distancia suficiente – entre edificações, no caso – não se consegue enxergar direito certo edifício. Do mesmo modo, quando eu vivia em Bagé,  não havia distancia suficiente para perceber essas nuances. Depois que mudei para o Modernismo da capital, estabeleceu-se a relação de contraste que me deu um novo olhar para essa arquitetura.

RCC.: Durante sua infância, sua mãe já manejava com extrema sensibilidade a arte da fotografia.  Esse contato foi decisivo para a sua escolha profissional?

Garcia: Sim. Quando tinha uns dez anos de idade, minha mãe comprou uma máquina fotográfica – Praktica MTL3 – e firmamos o seguinte trato: se eu lesse, entendesse e explicasse o manual em um tipo de ‘prova oral’ poderia usar a câmera. E é claro que me apliquei nessa tarefa e passei a usar a máquina.






RCC.: Antes de vir para Brasília, DF, o senhor já trabalhava com fotografia?

Garcia: Não. Fotografava mas em caráter amador. Quando cheguei a Brasília (em 1993, o 100º ano da Revolução Farroupilha) comecei a trabalhar em uma agência de publicidade como contato comercial, mas logo de cara precisaram de um fotógrafo e essa foi a porta de entrada do mundo profissional da fotografia.

RCC.: Em qual escola o senhor se formou fotógrafo?

Garcia: Na verdade comecei a trabalhar sem um curso formal. No início fui só com os conhecimentos adquiridos da vivência em casa. Com o dinheiro dos primeiros serviços comprei uns livros (era pré-internet) para ter maior segurança, pois ainda era película o suporte que usávamos.

RCC.: Radicado em Brasília, DF, o senhor fez vários cursos de aperfeiçoamento. Em quais escolas?

Garcia: O primeiro curso que fiz aqui em Brasília, foi no Sindicato dos Jornalistas com a Tinna Coelho. Na sequência fiz vários cursos com o Fernando Bizerra da Escola Brasiliense de Fotografia (EBF).


 
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RCC.: Como foi a sua experiência com o cinema?

Garcia: Muito boa. Fiz o still do filme “Memória de Elefante”, da diretora Denise Moraes em 2010. Nessa mesma ocasião, pude ver o Pedro Ionesco, diretor de fotografia, trabalhando. É um trabalho que exige um planejamento para não atrapalhar a cena que está sendo gravada. Não podem acontecer deslocamentos pelo risco de algum ruído “sujar” o áudio. E como facilidade é oferecida uma luz perfeitamente montada, que é a mesma da cena. Nesse mesmo filme também tem uma parte em stop-motion que ficou muito interessante.

RCC.: Fale-nos sobre o prêmio “Gourmand World Cookbook Awards” e da sua participação.

Garcia: Em 2004, a Editora Senac buscava realizar uma coleção de livros sobre a culinária local  e Marta Moraes, organizadora da coleção, acreditou que eu poderia fazer, mesmo não tendo portfolio na época. Esse trabalho resultou nos seis títulos da coleção Cozinha Capital. E o segundo livro, “O Bistrô de Alice” (2005) foi premiado nesse concurso de livros culinários do mundo todo.  Já em 2007, a Editora Senac publicou o livro “Gula da África”, que buscava a relação entre as duas culinárias – a brasileira e a dos países africanos. Com essa publicação a Flávia Portela levou o premio em 2009.

RCC.: O senhor trabalhou também em televisão, especificamente, no Programa Show da Cidade da TV Nacional entre janeiro e junho de 1996. Como foi essa experiência?

Garcia: A agência em que trabalhava começou a fazer a produção do programa e eu fui junto. Foi uma experiência muito rica, pois havia recém chegado a Brasília e não conhecia quase ninguém. Lá na produção do programa não tinha muito de cargos, fazia-se um pouco de tudo.

RCC.: Atualmente, o senhor estuda Arquitetura e Urbanismo. A prática profissional da fotografia o levou a esse novo desafio?

Garcia: Eu considero áreas complementares. O processo da fotografia é a transformação da realidade (em três dimensões)  para a janela fotográfica (que tem duas dimensões).  Essa transformação tem como resultado a criação da “vista” ou perspectiva.  A arquitetura também tem esse viés, mas a composição é tridimensional. É como criar uma foto onde as pessoas entram para experimentar com outros sentidos além da visão.

RCC.: Como tem sido a sua experiência no Setor Público?

Garcia: Acredito ser extremamente positiva, por conta da vivência com pessoas de todas as partes do Brasil e também de ter ido a muitos lugares aonde normalmente não se vai.

RCC.: A visão e o sentimento de um fotógrafo em relação a uma cena e uma paisagem é bem diferente de um literato, pois envolve cores e nuances. O senhor poderia descrevê-la?

Garcia: Hierarquicamente, tudo começa na luz. (Eu até brinco: que depois de fazer a luz Deus fez o fotógrafo.) Como o fotógrafo cria a partir da coisa feita, essa percepção (da luz nos objetos) é o principal ingrediente da fotografia. Se a luz é contrastante ou suave, fria ou cálida, se dá ou tira destaque.
Após essa percepção inicial, acontece a observação das possibilidades, ou seja, o que a junção do objeto com a luz produz como imagem. Acredito que esse é o momento mais pessoal da fotografia, por que cada individuo coloca suas experiências pessoais / visões de mundo / conceito de belo, nas pequenas escolhas, tipo o ângulo, a lente (ou fator de zoom) e os parâmetros da câmera fazendo assim uma foto totalmente diferente de qualquer outra feita no mesmo lugar.
No meu caso, quando estou fotografando posso afirmar que minha visão muda: não enxergo normalmente, fico buscando por linhas, padrões, contrastes, conjuntos, enfim, formas geométricas que complementem ou, até mesmo, sejam o tema principal da composição.

Registramos o nosso agradecimento pela gentileza da entrevista.

TESTEMUNHO

Por Pedro Du Bois (Itapema, SC)

Sou testemunha circunstancial:
não guardo mágoas
não transbordo
viajo em barco atracado
no cais da eternidade
(traduzo: espaço perdido
 no tempo confundido em lastro).

Avisto a terra conhecida e do alto
do mastro aviso aos navegantes:
terra entrevista

              terra até a vista.

terça-feira, 2 de julho de 2013

OTRO PUNTO EN LA AGENDA

Por Yolanda Cañizares Martínez (La Habana, Cuba)

El primer día del último mes del siglo XXX, el Gran Cónsul de la Confederación llegó temprano. Sabía que tenía una larga agenda de trabajo.
Apretando un botón en uno de los paneles, obtuvo una imagen gigante de su secretario, a quien preguntó:
— ¿Qué es lo primero que tenemos para el día de hoy?
— Señor— dijo el secretario— fue encontrado un viejo de una triste figura, que se cubre con una estrafalaria vestidura y se acompaña de unas antiguas armas.
— ¿Fue identificado?
— Sí, señor, él dice llamarse Alonso Quijano, pero la Identificadora Cósmica Poblacional plantea que es conocido por el sobrenombre de Don Quijote.
— ¿Y qué dice ese extraño personaje?— preguntó el Cónsul.
— Que su misión es luchar por la justicia— respondió el secretario.
— Justicia, justicia, no conozco el significado de esa palabra— dijo el Cónsul.
— Yo tampoco. La Macrocomputadora Idiomática plantea que esa palabra dejó de emplearse en el siglo XXI y por eso no fue incluida posteriormente en el Idioma  Universal.

— Bien, debe ser remitido al satélite de los dementes, pues, se trata sin dudas de un loco. Pasemos a otro punto de la agenda.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

EL PODER

Por  Yolanda Cañizares Martínez

Desde la puerta de su pobre choza, pegada al mar, el pescador de perlas Mutsu vio acercarse a la caballería del Shogún, con él al frente. Después de bajarse el Shogún le preguntó:
— ¿Sabes quién soy?
— Sí, el señor Shogún— contestó el pescador con aspereza.
— He oído que sacaste del mar una gran perla— dijo el Shogún.
— Sí, así ha sido— dijo Mutsu.
— Quiero verla, te ordeno que me la muestres.
El pescador buscó en una bolsa y extrajo una perla enorme, brillante y anacarada, cuyos destellos iluminaban su mano.
— ¡Nunca he visto nada así! La quiero para mí.
— No señor, es mía, yo la encontré— dijo con firmeza el pescador.
— Pero tú sabes que yo soy el Shogún, tan poderoso como el emperador de todo el Japón y esto me da potestad hasta sobre tu propia vida. Entrégamela o mis hombres harán fuerza sobre ti y yo obtendré esa perla.
— Sí, señor, lo sé, pero yo tengo un poder que usted no tiene.
— ¿Cómo te atreves a decir eso? — preguntó el Shogún.
— Porque yo tengo el poder que usted no tiene de hacer esto.

Y el pescador lanzó la perla con todas sus fuerzas al mar.

LO INESPERADO

Por Yolanda Cañizares Martínez (La Habana, Cuba)

Erich Dehmel, oficial jefe del campo de concentración alemán, tenía en sus manos una carta dirigida a él por 
su gran amigo el médico cirujano, el Dr. Mesmer, quien después de haber trabajado en ese campo durante algún tiempo, había sido trasladado.
Dehmel la abrió y la leyó:

Querido Erich:

Estoy ya en los umbrales de la muerte y no quiero irme de este mundo sin confesarte algo, no quiero llegar ante Dios con el cargo de conciencia por no habértelo dicho.
Cuando sufriste el atentado y te trajeron muy mal herido, enseguida supe que necesitabas urgentemente una transfusión. Ordené un análisis para determinar tu tipo de sangre. Con sorpresa y angustia vi que eras O negativo, un tipo escaso y difícil de encontrar. Urgentemente me dediqué a buscar en los archivos la probabilidad de encontrar otra persona dentro del campo que tuviera ese tipo de sangre. En encontrarla estaba tu salvación.
Pude hallarla milagrosamente. En ese momento pensé no decirte nunca nada, pero ahora que estoy moribundo decidí hacértelo saber. Ese tipo de sangre solo la poseía uno de los presos del campo. Así que le debes la vida a un judío, tuve que hacerlo, no tenía otra opción que infiltrarte sangre judía.
Ojalá Dios se apiade de mí y que tú sepas perdonarme.
Tu amigo que se despide del mundo y de ti,

Dr. Mesmer.


Erich Dehmel, palideció y la carta cayó de sus manos.

VAMOS FALAR DE PLÁGIO

Por Humberto Pinho da Silva (Vila Nova de Gaia, Portugal)

                     José Cascales de Muñoz, disse: “No hay poeta que no haya plagiado  más de ciento de los antigos y contemporâneos “.
 Nem há escritor que não tenha plagiado, ainda involuntariamente, os clássicos. Nem jornalistas e professores que não tenham copiado, modo de ensinar e expressões, que ouviram a antigos mestres.
Todos nós, segundo Cruz Malpique: “ Chegamos muito tarde, a um mundo já muito velho. Cada um de nós, falando, escrevendo, pensando, fazendo seja o que for, é como tivesse procuração dos que nos precederam.” 
Muitas vezes há nítida intenção, de plagiar, como é o caso do “ Caramurú” - poema em dez cantos, de Frei José de Santa Rita Durão, publicado em Lisboa, em 1781, - que é decalque grosseiro dos “ Lusíadas”
Mas também o plágio pode ser por mero acaso:
Germano Almeida, escritor cabo-verdiano, planeara escrever sobre fictício congresso, a realizar em Lisboa, sob o tema: Homens traídos por suas mulheres.
Com o texto criado na mente, entrou numa livraria lisboeta e depara com Fernando Assis Pacheco, que recomenda-lhe a leitura do livro: “ Jogos da Idade Tardia” de Luís Landero.
Ao folhear a obra, encontra passagens idênticas, muito semelhantes, ao que trazia, quase concluído, na memória.
Essas coincidências, ainda que não sejam vulgares, acontecem. A ideia uma vez lançada, funciona como onda de rádio. Há sempre receptores que a acolhem.
O povo, que é grande mestre, costuma usar frase que explica tudo: “Anda no ar”.
Andar no ar, é uma espécie de boato mudo, que não se ouve, mas sente-se.
Nova forma de plagiar, é recorrer à Internet. Em segundos, alcança-se a matéria, e “rouba-se” conhecimentos, quase sem esforço.
Teses, mestrados, doutoramentos, uma vez publicados na Net, são alvos de copianços e apresentados, após ligeira maquilhagem, como originais, fruto de aturado trabalho.
Para combater a fraude, existem programas informáticos, que detetam o copianço. Entre outros, encontram-se o: “ Turnitin” e o “Ferrit”.
Mais difícil de descobrir, são teses feitas por encomenda, a antigos licenciados, apreços que podem atingir os 25 mil euros.
Famosos escritores foram acusados de plágio. Entre eles: Gabriel d’Annunzio, Moliere, Virgílio e até o nosso Eça de Queiroz.
Plágios, que certamente não passaram de acasos ou resultado de leituras antigas.
O escritor é fruto de muitas leituras e de muitas conversas e estudos, acumulados desde a infância; não se erra, se dissermos, que todos nós repetimos, o que pensaram e escreveram os que nos antecederam.

Se escrevo esta crónica, deve-se ao trabalho dos que publicaram artigos e obras que trataram o tema. Apenas coube-me o papel de abelhinha: “roubando” mel, de flor em flor.

RECEIOS

Por Pedro Du Bois (Itapema, SC)


O receio traduz
a vontade do erro
conduzido ao resultado

                                   a inapetência
                                   da fera

o profundo suspiro
do esteta
na adjetivação
da frase
                                   no desconsolo

o receio reduz o fato

ao mistério do não acontecimento.

DESABITAR

Por Pedro Du Bois (Itapema, SC)

Sinta, senhora, na noite quente,
em abafado quarto, a brisa refrescante
pela janela aberta ao poente; esqueça,
senhora, da tarefa: sirva-se de chá
e aguarde o tempo necessário
ao aroma se afastar em reingresso.

Veja, senhora, com suas órbitas
desfocadas, o que resta da imagem
sobre a cama. Na quietude do dia
alvorecido, diga do consolo
dos que partem. Saiba, senhora,
em mãos despetaladas, do abandono

do corpo agora desabitado.

A CRIAÇÃO DOS FILHOS

Por Pedro Du Bois (Itapema, SC)

Falamos sobre os desencontros

a água disposta
em consequência
da sede: respingos inundam
               as folhas e pétalas
               rebrilham em gotas

falamos sobre a melhor
maneira com que criamos
os filhos: a água lava
               os corpos

               indiferentes.