domingo, 3 de fevereiro de 2013

PERFIL: ACVIEIRA



Por Paccelli José Maracci Zahler

Neste mês de fevereiro de 2013, a Revista Cerrado Cultural teve a satisfação de entrevistar o artista plástico autodidata Antônio Carlos Magalhães Vieira, conhecido como ACVieira, pintor, escultor e gravador, radicado no Distrito Federal.
A entrevista foi realizada no ateliê do artista em Águas Claras, DF.



RCC. Onde o senhor nasceu?

ACVieira. Nasci em Araguari, Minas Gerais.

RCC. Desde pequeno o senhor já sentiu inclinação para as artes plásticas?


ACVieira. Recordo-me que, ainda no jardim de infância, desenhava figuras como uma casinha ladeada por uma cerquinha ou uma flor margarida que repetia sempre. Com mais idade procurava reproduzir desenhos de quadrinhos infantis. Aos nove anos, o fato de ter participado como modelo, em ilustrações de livros por uma tia minha, Shirley Magalhães, artista plástica formada pela Escola de Belas Artes de Goiás, acredito tenha reforçado meu interesse pelas artes plásticas. Posteriormente, sempre estive interessado em assuntos pertinentes as artes plásticas.

RCC. Houve algum incentivo na escola fundamental?


ACVieira. Tive a oportunidade de fazer oficinas de cerâmica, no então CASEB, em Brasília, no final da década de1960.
 
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RCC. Como foi a sua formação em artes plásticas?


ACVieira. Quando cursava o Segundo Grau no Centro Integrado de Ensino Médio – CIEM, em Brasília, tive aulas de xilogravura, com excelentes mestres, como Laís Aderne e João Batista, significativos nomes da arte brasileira. Daí meu interesse, inicialmente pela Xilogravura. Nesse período, monitorava, na escola, na área das artes. Fui professor de artes na Fundação Educacional da Secretaria de Educação do Distrito Federal. Lecionei cursos de xilogravura em escolas particulares de nível médio do Distrito Federal.

RCC. Em que consiste a técnica de xilogravura utilizada pelo senhor?


ACVieira. A técnica da xilogravura é a gravação de desenho em madeira plana que posteriormente é entalhada em baixo relevo. Concluído o entalhe, sobrepõe-se papel e tinta apropriados e, por recalque, grava-se a imagem. Permite-se reproduzir quantas cópias desejar. Trata-se de uma técnica democrática devido a quantidade de cópias permitidas, dessa forma alcançando um maior público. Cada cópia terá uma numeração própria assinada pelo autor, geralmente em grafite, destinada ao controle da tiragem.

RCC. O senhor também trabalha com cerâmica?


ACVieira. Nos anos de 1990, fiz cursos de extensão na Universidade de Brasília, especificamente de cerâmica em terracota e esmaltação. Desenvolvi meu trabalho como ceramista em ateliê próprio, onde também procedia a queima das peças. Produzia peças em terracota, ou seja, a cerâmica queimada,  em torno dos  600 a 1.200 graus centígrados.

RCC. Neste caso, poderia nos descrever o processo de trabalho?


ACVieira. A peça é modelada em argila. Terá maior ou menor resistência, dependendo da variação de temperatura da queima, ou ainda, conforme a qualidade da argila quanto aos elementos minerais que contenham. A técnica da terracota é o processo de queima sem a utilização de óxidos. Com a adição dos óxidos a terracota se transforma em esmaltação. Na esmaltação, as peças adquirem diversas colorações, de acordo com a temperatura e o óxido aplicado. As peças são queimadas em temperaturas que variam de 500º C a 1.300º C.

RCC. O seu trabalho também é feito com pedra sabão?


ACVieira. Na escultura também trabalho a pedra sabão. A matéria prima é originária da cidade de Goiás Velho, local mais próximo de Brasília.

RCC. O senhor também trabalha com pintura. Que técnicas o senhor utiliza?


ACVieira.  Comecei a trabalhar com a pintura, de maneira totalmente autodidata, sem o auxílio prático de mestres. Utilizo da empastação, técnica onde se impõe um volume maior de tinta, quase que uma textura, sem, no entanto, utilizar-se de outro recurso que não a própria tinta. Trabalho com os Óleos sobre Tela – OST e Acrílica sobre Tela – AST.

RCC. Como o senhor definiria o seu estilo?


ACVieira. Sou figurativo. Quando retrato a figura humana sou mais estilizado, ou seja, o desenho levemente alterado. Nas paisagens procuro a fidelidade do desenho aproveitando-se a luminosidade dos ambientes retratados.
Na escultura quando reproduzo os veios dos troncos e das raízes, ressalto o puro realismo. Ainda de puro realismo, os traços fortes do negro.

RCC. Como surge a inspiração para se expressar por meio da arte?


ACVieira. O processo da criação não tem regra única. O importante é que se tenha em mente um projeto onde se define o tema e a técnica. No decorrer do trabalho de elaboração, pode-se vislumbrar elementos a acrescentar, que enriqueçam a obra.

RCC. O senhor tem preferência por alguma técnica ou por algum tema?


ACVieira. Não. Atualmente tenho me dedicado à pintura, nos Óleos sobre Tela – OST  e Acrílica sobre Tela – AST. Quanto a temática, a questão social e a defesa do meio ambiente, essencialmente.

RCC. O que a arte representa para o senhor? 


ACVieira. Quando faço arte manifesto minhas indagações e exponho minhas introspecções, ao retratar o ser humano ou a natureza. No fazer artístico, me aquieto nessa atividade. Às vezes tenho que impor a interrupção, do contrário prosseguiria indefinidamente no tempo.

RCC. O senhor tem participado de exposições?


ACVieira.   Tenho apresentado várias exposições individuais, ressaltando-se: Foyer da Sala Martins Penna, no Teatro Nacional - Brasília; Espaço Cultural Zumbi dos Palmares no Congresso Nacional – Brasília; Aliança Francesa em Brasília; Salão Negro do Palácio da Justiça - Brasília; Galeria Hot Art, em Brasília.
Tive participações internacionais, em exposições coletivas de artistas brasileiros no “VII Encontro da Arte Brasileira”, promovido pelo “Colege Arte” de Minas Gerais, com o apoio da embaixada brasileira, no Canning House Gallery, em Londres, Inglaterra; Casa do Brasil, em Madri, Espanha; União das Cidades Capitais – UCCLA, em Lisboa, Portugal ; e Texnopolis, em Atenas, Grécia.
 Em uma segunda etapa, no mesmo evento, no Palais Pafy, em Viena, Áustria; e na Expression Libre Galerie, em Paris, França.


RCC. Como o senhor avalia o mercado de obras de arte no Brasil?

ACVieira. O Brasil tem grandes expressões artísticas, com projeção internacional. Para citar alguns nomes: Portinari, Di Cavalcanti, Oswaldo Goeldi, Alberto Guignard, Bruno Giorgio, Yara Tupynambá, Ruben Valentim, Siron Franco, Tomie Ohtake, Maurino de Araújo, Manabu Mabe, Jô Oliveira, dentre outros.

Entendo  que no Brasil prescinde-se de um número suficiente de galerias e museus que promovam e comercializem a Arte Brasileira. Acretido que, melhorando esta estrutura, os artistas terão maior oportunidade de mostrar seus trabalhos.




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